Dossiê da crise – 2008

Este dossiê foi uma iniciativa da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), com o objetivo de estimular um debate sobre a natureza e o significado da crise financeira mundial deflagrada em 2008, assim como seus efeitos sobre a economia brasileira. Embora não tenha como objetivo ter uma visão única sobre a crise financeira mundial, os artigos deste Dossiê têm em comum uma visão teórica e de mundo keynesiano, segundo o qual mercados (sobretudo os mercados financeiros) livres e desregulamentados tendem a gerar instabilidade e crises.

Os artigos aqui publicados mostram que a crise financeira global deflagada em 2008 foi uma crise das finanças globais desregulamentadas, que faz com que uma crise em um segmento específico do sistema financeiro norte-americano acabe se propagando pelo mundo. Em particular, é analisado como a partir de hipotecas de mercado subprime criou-se uma pirâmide artificial de títulos securitizados sofisticados que acabou se desestruturando a partir da crise naquele mercado. Se esta é uma crise da ausência de regulamentação e do Estado, é a atuação do Big Central Bank (banco central como emprestador de última instância) e do Big Government (política fiscal anti-cíclica) que vai impedir que uma grande crise se transforme em uma depressão. Vivemos, assim, um “Momento Minsky” e um “Momento Keynes”. Os efeitos da crise, infelizmente, não são neutros do ponto de vista econômico e social. Os propalados benefícios da globalização, duvidosos no período de prosperidade, sobretudo para os menos assistidos, passam a ser – neste contexto – seriamente questionados.

Os efeitos da crise sobre a economia brasileira acabaram por “enterrar” a tese do descolamento dos países emergentes. Por um lado, observou-se de imediato a fragilidade financeira do setor privado como resultado direto da crise, às voltas com um elevado endividamento. De outro, a maior preferência pela liquidez dos bancos gerou um “empoçamento” da liquidez e um arrefecimento no crescimento do crédito. Em resumo, a deterioração no estado de expectativas de firmas e bancos gerou o temor de uma forte desaceleração, justamente quando a economia brasileira vinha passando por um de seus mais longos ciclos de crescimento dos seus então últimos 28 anos.